domingo, 13 de setembro de 2009

"Sideways - Entre umas e outras"

Acontece que de uns tempos pra cá, as produtoras - ou sabe-se lá quem seja o responsável por isso - teimam em rotular certos filmes como "comédia", simplesmente porque não se encaixam perfeitamente na definição de qualquer outro gênero. Isso aconteceu com "Pequena Miss Sunshine", por exemplo. E agora vejo que com "Sideways" a história não foi diferente. Esses filmes não são comédias de jeito nenhum, pelo menos não no sentido mais restrito da palavra. Tá certo que existe meia dúzia de passagens com uma dose a mais de humor, mas eles também estão cheios de momentos mais dramáticos e densos e nem por isso os rotularam como "drama", o que seria, na minha opinião, algo bem mais plausível. Mas se a produtora/distribuidora acha isso mais rentável e comercial, deixa eles. Esses detalhes não influem de qualquer forma no resultado final da obra. Agora se você pretende alugar/comprar esses filmes com a única finalidade de rir, pode esquecer, pois eles estão longe disso. Eles são dramas e pronto. No máximo "dramédias", mas classificá-los como comédia-COMÉDIA mesmo, isso tá longe de fazer qualquer sentido.

Agora, referindo-me apenas a "Sideways", o achei bastante interessante porque ele circula o tempo todo por sentimentos opostos, passando por risos e momentos onde quase se vertem lágrimas, por discussões estúpidas e diálogos filosóficos, por bobagens caucadas em acontecimentos sérios e discursos dramáticos regados a muito álcool que não tinham o menor fundamento. E é nessa mistura de pontos de vista contraditórios que a história se faz, opostos que se concretizam muito bem na imagem dos dois protagonistas: de um lado um inconsequente bon vivant, fanfarrão e do outro um depressivo e amargurado professor com o ego ferido pelo divórcio e pela vida que leva.

O mais estranho é que no filme, o tom amargo e depressivo que existe na maior parte do tempo, divide o espaço com cenas e imagens que remetem a tudo menos à depressão. São poucas as passagens noturnas, por exemplo. A maioria delas são cenas diurnas, cheias de luz, no meio dos vinhedos, nas estradas e isso, mesmo não condizendo teoricamente com a "tristeza" da vida de Miles (Paul Giamati), tem seu caráter mais melancólico, inicialmente não parece, mas tem. E isso só se torna perceptível por intermédio dos diálogos, são eles que conferem a densidade da narrativa, enquanto que o cenário exerce uma função contrária e meio que equilibra a situação e não deixa o melodrama cair no exagero.

Na trama, dois amigos tiram uma semana pra viajar pelos vinhedos dos EUA, e meio que fazem dessa viajem a despedida de solteiro de um, enquanto que pro outro acaba sendo como uma reavalição de sua vida. E o vinho é uma outra constante na narrativa, ele tá sempre inserido em algum momento, seja fisicamente, seja diluído no meio dos diálogos. Faço uma ressalva pro momento em que o personagem de Giamatti conversa com a garçonete Maya na varanda da casa e os dois fazem uma metáfora da vida comparando-a ao vinho, ou dando vida à colheita e ao vinho, alguma coisa do tipo. É realmente uma das cenas mais importantes do filme, pra mim, a melhor de todas.

Sendo bastante sintético, eu poderia dizer que é um filme sobre a amizade entre duas pessoas, mas não é só isso. Aliás, não é nada disso. Talvez ele trate mais profundamente a questão da mudança, de seguir com a vida quando ela parece amarrada a alguma coisa que não a deixa seguir em frente. E essa coisa pode ser uma pessoa, algo não resolvido no passado, um trabalho rejeitado, enfim. Cada um tem sua pedra imensa na vida. Só resta aprender a lidar e o que fazer com ela. Alguns demoram mais, outros menos. Mas isso não é regra, não é fixo, não é igual pra todos. Varia de pessoa pra pessoa e cada um se resolve de acordo com seu tempo.

Trailer:



Nota: 8,5

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