sábado, 29 de agosto de 2009

"O contador de histórias"

Talvez a pior parte do amadurecimento seja mesmo ter que perder a ingenuidade e a fantasia pulsante que existe no olhar de uma criança, ver cada vez menos cores num mundo completamente cinza e beleza onde aparentemente só há caos e desespero. E faz um bem danado resgatar essa perspectiva que é deixada de lado depois que se cresce. Ajuda a manter viva a esperança de que um dia tudo se ameniza, e mudar e melhorar a nossa condição se torna uma opção possível de ser alcançada, mesmo quando todas as portas parecem estar fechadas e encobertas.

É exatamente isso o que Roberto (ou "Robertô") tenta nos dizer o tempo todo em "O contador de histórias", que é possível recuperar o irrecuperável, que é preciso preservar com cuidado o menor fio de esperança porque quando menos se espera surge a possibilidade que precisávamos e vemos que era esse minúsculo e frágil fio que nos sustentava de pé e é ele que nos servirá de guia durante todo o percurso.

O filme, baseando-se em relatos verídicos, relata a vida conturbada e assustadoramente forte e bonita de Roberto Carlos que encontra na FEBEM o fundo do poço e também o início do que viria a ser o divisor de águas de sua existência até então. E esse divisor de águas tinha nome, sobrenome, fumava, gostava de azul, era francesa, pedagoga e se chamava Marguerite Duvas, uma personagem real, carismática, daquelas difíceis de se esquecer porque cativa e emociona com atos e falas presentes e marcados no decorrer de toda a narrativa.

O mais interessante de tudo é poder acompanhar a visão fantasiosa de Roberto ao narrar os pontos cruciais de sua história, seja na ocasião em que sua mãe resolve que o melhor pra ele seria de fato a FEBEM e que na visão dele ganha ares de assalto a banco, com música e figurino remetendo aos anos 70, ou ainda na cena em que é mostrada a sua chegada à instituição e que nesse momento não passa de um grande picadeiro, sob uma lona colorida e onde os professores são substituídos por hipopótamos e comparados constantemente com imagens e objetos que só existem mesmo na cabeça criativa, engenhosa e mirabolante de uma criança ou na de um verdadeiro contador de histórias com talento reconhecido internacionalmente. Luiz Villaça fez uma obra que mexe com sonhos, desejos, esperança e oportunidades num contexto em que elas são cada vez mais raras. Mostra que elas são possíveis, que nada é irrecuperável, mesmo se tratando de coisas tão raras, mesmo quando o mundo inteiro afirma e grita que não. É preciso ir de encontro a isso e crer que há sempre um novo caminho por onde escapar, que há de se ter sempre esperança.

Trailer:


Nota: 8,0

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

"Sicko - S.O.S Saúde"

Michael Moore é o típico profissional multi-uso. Em seus filmes/documentários é ele quem faz praticamente tudo: produz, filma, atua, dirige, narra e ainda por cima consegue mostrar pro mundo inteiro - se dirigindo mais especificamente pro público norte-americano - que o sonho americano e o estilo de vida que se encontra por lá, não é tão colorido e invejável como se pensa e pode, muitas vezes, se tornar um completo e total pesadelo que dura 24 horas por dia, 7 dias por semana.

As imagens e as histórias que fundamentam "Sicko", assim como todos os outros filmes de Moore, se resumem em revelar um lado da história americana que não se assemelha em nada à visão que temos dos EUA enquanto gloriosa potência mundial, e que os fazem parecer socialmente pior do que muito país dito de terceiro mundo, fraco economicamente e de reduzida perspectiva social. Se em "Fahrenheit 11/09" as consequências do atentado às torres gêmeas no governo de Bush caracterizavam o cerne da trama, em "Sicko" a vítima da vez é o mercado financeiro que existe por trás do sistema de saúde norte-americano, no qual o lucro e o dinheiro poupado pelas redes de assitência particular é quem dita as regras e se relega a segundo plano a saúde e o bem-estar da população.

Pra facilitar (ou piorar) a digestão do absurdo que é o sistema de saúde dos EUA, o documentário faz um percurso por vários países do mundo, pobres e ricos, "aliados" e "inimigos" americanos, pra traçar esse paralelo e demonstrar, por A + B, que os preceitos que regem o sistema americano e os cuidados que se oferecem aos pacientes por lá são ações desprovidas de qualquer humanidade, de bom senso e de ética profissional. É um arranjo político inteiramente falho e sujo dos pés a cabeça, que já se iniciou com valores contrários ao que se pode entender por "cuidado" e por "saúde" e que se transformou em mais uma forma de se obter lucro e dinheiro como quase tudo (ou tudo mesmo) que existe em solo americano.

- Pausa pra advertência -

Só tomemos cuidado para não julgarmos e apontarmos o dedo com muita vontade, pois o nosso SUS não é, nem de longe, essa perfeição toda e se encontra abaixo do dos EUA no ranking dos sistemas em escala mundial e ainda tem muito que ser pensado e revisto pra funcionar como deveria ser.

- Fim da pausa -

"Sicko" é um longo e demorado documentário sim, mas daqueles que em hora nenhuma se torna chato. Diverte, informa, faz rir e emociona na dose certa e no momento certo. Faz o que tem de ser feito e provoca um turbilhão de pensamentos na cabeça da gente e nos permite questionar uma série dos nossos valores, assim como a política que nos governa e também nos ajuda a pôr em xeque se é essa mesma a forma e o sitema que queremos seguir e se é essa a vida que queremos. É um verdadeiro tapa na cara sisuda e prepotente de muito americano e um certeiro empurrão nas costas do mundo para que deixemos de ser tão acomodados, paremos de engolir àquilo que nos jogam e simplesmente façamos alguma coisa por nós, nem que seja reivindicar aquilo que é nosso por direito e que ninguém nos pode negar.

Trailer:


Nota: 8,0

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O melhor e o pior de Meryl Streep

'Meryl Streep' é um dos poucos nomes do cinema que consegue carregar o sucesso de um filme inteiro nas costas, que enche as salas do mundo inteiro somente pelo simples fato de estar envolvida na produção e ainda consegue, às vezes, tornar muito filme chato e ruim em algo, digamos, assistível. Mas escolher o "pior" da imensa filmografia de fimes bons dela foi fácil - veja que paradoxo. Difícil mesmo foi escolher o MELHOR. É tanto trabalho bem feito, que me decido pelo debaixo com uma pena muito grande em deixar os outros para trás. Mas assista, assista todos se puder, e então retorne aqui e me critique, me corrija, e diga se estou certo ou não em definir estes como o melhor e o pior de Meryl Streep.

#Melhor: Eu vinha decidido a colocar com toda vontade "As Horas" nesse posto. Mas refleti um pouco e percebi que do sucesso dele somente um terço é fruto do suor de Meryl Streep. Os outros dois terços se devem um à Julianne Moore e o outro à Nicole Kidman. Então achei por bem citar um título em que a atriz tivesse mais destaque e detivesse uma responsabilidade maior no resultado final da obra, daí lembrei de "As pontes de Madison", filme em que ela interpreta uma simples dona de casa que, à primeira vista, não tem do que reclamar da vida, mas que no fundo sustenta uma grande insatisfação com isso tudo e acaba se envolvendo e se apixonando por um fotógrafo que chega à cidade pra catalogar as famosas pontes de sua região, durante um período em que a família inteira se ausenta de casa e ela acaba tendo a oportunidade de se entregar por inteiro àquela relação extra-conjugal, mas que no final das contas a traz de volta do transe permanente em se achava a sua vida naquele momento. É o típico romance que conhecemos, mas sem exageros, sem pieguices, sem apelações, muito diálogo e boas atuações. No ponto exato pra quem curte o gênero.

#Pior: Não é porque eu não cultive essa admiração toda por musicais. Não se trata disso. Até porque não utilizo isso como pré-requisito pra conferir ou não uma obra, embora a grande verdade seja que musicais não me agradam mesmo. Mas admito que "Chicago" e "Moulin Rouge" são sim filmes muito bons. E essa é a prova que gêneros que você não gosta podem acabar te fazendo morder a língua, porque filme bem feito é bom de qualquer jeito, independente do estilo. Mas esse, infelizmente, não foi o caso de "Mamma Mia!". Filme ruim, bobo e tosco num grau gigantesco e nem Meryl Streep cantando conseguiu mudar minha opinião. Me desculpem os fãs do gênero e do filme em específico, mas esse é do tipo que é feito pra ir direto pro esquecimento, pro limbo e pras profundezas das obras sem jeito e sem futuro, fazendo companhia a todos os títulos da Xuxa lançados na última década e do Renato Aragão depois que colocaram um fim nos Trapalhões. O filme traz na realidade uma história muito fraca, previsível e contada (ou cantanda) da forma mais água com açúcar possível. Para diabéticos e pessoas que não se encantam com qualquer coisa, "Mamma Mia!" é, definitivamente, uma escolha mais do que equivocada. Por isso: fujam, fujam o máximo que puder.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"A vida dos outros"

Quando um filme brasileiro ganha um pouco mais de visibilidade no mercado internacional ele traz o quê como pano de fundo? Favela, tráfico, armas, drogas e etc. Com os filmes alemães a lógica segue mais ou menos o mesmo raciocínio, só que as favelas e o tráfico deles são conhecidos por nomes como nazismo, anti-semitismo, holocausto, exagero de poder por parte do estado, conspirações e afins. E como não podia ser diferente, "A vida dos outros" pisa exatamente nesses calos ainda doloridos dos pés dos alemães, não em todos obviamente, mas em alguns deles.

Esse é do tipo de filme feito para poucos. Não me refiro a esse pequeno grupo como sendo dotado de algo mais especial, como sendo mais pensante, reflexivo ou qualquer coisa do tipo. O que quero dizer é que o público para o qual ele se dirige foi e sempre será minoritário. É o típico filme pra ser visto naquelas aulas da faculdade, na qual tudo o que você quer fazer é encontrar um apoio pra cabeça e dormir. Não me entenda mal, o filme não é ruim. Só acho que existe tempo e local certos pra se assistir a filmes como esse. E se você quebrar seus preconceitos estúpidos e levar pra casa um filme como "A vida dos outros" e fazer o esforço de se dedicar a ele e fazer um favor pra si mesmo assistindo às duas horas e sete minutos que se prolongam a narrativa, vai ver que seu tempo foi muito bem investido e entender de uma vez por todas, que coisas aparentemente chatas e monótonas, fazem um bem danado pra gente de vez em quando.

O filme longo e algumas vezes um tanto quanto arrastado, toca em questões cruciais da nossa sociedade como privacidade e liberdade de expressão, ou, no caso, na ausência delas devido a um governo que se acha no direito de saber tudo de todos e que acredita poder controlar a vida de uma nação inteira por meio desse terrorismo latente, com sequestros e torturas às escusas, buscas que comprovem pensamentos contra o governo e compra do silêncio e da obediência daqueles que se submetem a esse sistema comandado por pessoas que vivem com mania de conspiração internacional.

Na trama, um escritor que tem a sua conduta posta em xeque pelos membros do partido comunista, passa a ter sua vida monitorada vinte e quatro horas por dia com escutas que tentam identificar qualquer vestígio que o identifique como um membro contrário aos interesses do governo. O que acontece é que o responsável por realizar as escutas acaba se sensibilizando com o dia a dia dos eventos na casa do investigado e passa a viver uma vida que não é a dele e que só chega até ele por intermédio de diálogos, suspiros e gemidos ouvidos através dos fones no cômodo pequeno e escuro do prédio ao lado. Até que um dia ele termina por interagir de fato com essas pessoas e se torna a peça principal dos acontecimentos ocorridos dali em diante, culminando no final forte e revelador de uma época em que inclusive pensar dessa ou daquela forma era proibido, que dirá então de agir, se comportar e dar um passo além dos fios de ventrílocos que eram postos na comunidade. Uma história pesada e cheia de denúncias que ficaram presas por muito tempo no peito de milhares de pessoas que viveram naquela época, mas que só hoje conseguem expressar o desespero e o infortúnio que era viver sob vigilância constante e onipresente do governo oriental alemão.
Trailer:


Nota: 8,0

domingo, 16 de agosto de 2009

"Rebobine, por favor"

Michel Gondry já tinha muito crédito sobrando comigo por causa de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", mas depois que vi "Rebobine, por favor" o cara virou meu ídolo pessoal e ganhou minha admiração pra eternidade. O filme é um verdadeiro presente pra quem gosta de cinema e pra quem curte comédia de qualidade, daquelas que tem personalidade e profundidade mesmo nas piadas mais toscas e escrachadas. E eu temia muito que ele ficasse somente nesse lado superficial, até porque Jack Black está no elenco, e mesmo sendo muito bom naquilo que faz, às vezes ele perde a mão quando resolve exagerar nas expressões e ultrapassa o limite do cômico pra despencar com os dois pés juntos e firmes no campo do ridículo. Mas o caso é que não, nesse ele pisou no freio, manerou na atuação e acertou em cheio no papel do cara do ferro velho magnetizado acidentalmente e de pouco juízo. Ponto, de novo, pra Gondry.

A história passeia o tempo todo em filmes que fizeram sucesso nos últimos anos e em décadas passadas, e por isso aconselho que você veja pelo menos alguns deles (como "Caça-fantasmas", "2001 - uma odisséia no espaço", "Rei Leão", "Rocky", "Robocop", "King Kong", "A hora do rush 2") antes de ver "Rebobine...", do contrário as piadas vão ficar totalmente sem sentido, e o que era pra provocar risos vai acabar gerando estranhenza, já que a graça mesmo está em ver a versão "suecada" deles das obras supracitadas, e se você não as viu, tudo vai ser tão cômico e desconexo quanto as esquetes sem graça dos programas de sábado à noite da vida dos brasileiros sem tevê a cabo - leia-se "A praça é nossa" e "Zorra Total".

Em resumo, a história se passa dentro de uma locadora onde só se locam fitas em VHS, e que, por obra do destino, acabam sendo todas danificadas em decorrência de um campo magnético que circula pelo local. E pra evitar o desapontamente de uma antiga cliente da loja, o funcionário da locadora e seu inconsequente amigo acabam tendo que refilmar eles mesmos o filme pedido por ela. E pra surpresa deles, o resultado repercute imensamente na região, o que os motiva a produzir mais e mais obras "suecadas" - como eles dizem - com o apoio de todo o bairro e que gera um produto final bem maior do que aquilo que eles imaginavam criar desde o início.

Esse filme poderia muito bem ser exibido nas salas de aula de cinema pra ensinar como se faz comédia com inteligência e sem se perder em bobagens que não causam nada na audiência se não pena e raiva por ter desperdiçado tanto tempo da vida com elas. Simplesmente impagáveis e inesquecíveis as cenas em que os dois personagens principais se camuflam pra fugir da polícia na cerca da companhia elétrica, ou naquela em que eles invadem a envidraçada locadora da concorrência, assim como também ver na prática a técnica que eles elaboram pra tranformar o dia em noite numa tomada do filme feito por eles em uma locação externa em plena tarde de sol. É filme pra ser visto e revisto com um sorriso na cara de orelha a orelha, que diverte mas não fere sua inteligência e sua paciência em hora nenhuma, como todo bom filme de comédia deveria ser.
Trailer:

Nota: 9,5

sábado, 15 de agosto de 2009

"Transformers: A vingança dos derrotados"

Confesso que fui assistir à continuação de Transformers com uma expectativa que rastejava pelo chão. Não tinha me agradado muito ver o primeiro e as críticas que ouvi referentes ao segundo eram todas, sem excessão, completamente desanimadoras. E como nesses casos eu sou um péssimo seguidor de regras, fui conferir na tela grande o motivo de tanto ódio pela imprensa "especializada" na área. Mas fique sabendo de que eles mentem às vezes, ou melhor, não sabem muito bem do que falam ou simplesmente têm um gosto diferente do seu, o que significa que você pode sim se surprender com um filme destroçado pela crítica. Minha dica é: leia as resenhas, dê ouvidos a elas se quiser, mas veja os filmes independente de qualquer coisa. Assim como eu faço. E afirmo, sem sombra de dúvidas, que "Transformers: a vingança..." é muito superior ao anterior e é infinitamente mais complexo e completo também.

A impressão que tive é que nesse longa a ênfase da narrativa foi focada mais no elenco "humano", do que nos próprios mega-ultra-poderosos-robôs-alienígenas-que-se-camuflam-de-carros e que são, no final das contas, o motivo principal da continuação ter existido. Tanto que se você for prestar atenção há mais interação e cenas com pessoas de carne e osso do que as tais disputas entre os transformers. E talvez seja por isso que a crítica tenha detestado tanto a obra. E outra que eles, os transformers, estão mais humanizados, chegando inclusive ao ponto do Bublebee chorar em uma das cenas e de outros transformers apresentarem sentimentos tipicamente humanos como ciúmes, inveja, raiva e etc. Não sou um bom conhecedor da história dos Transformers anterior aos filmes, aliás não sei absolutamente nada sobre isso, e muito menos se eles foram criados pra serem realmente assim com traços humanos, mas, na minha visão de leigo que só os conhece pelos filmes, isso serviu pra me ajudar a compreender melhor a função deles ao lado do exército americano, afinal se eles não se assemelhassem de alguma maneira com a figura humana, tal parceria nunca daria certo.

É claro que ele não chega a ser um espetáculo de filme, mas ele é totalmente bem resolvido e corresponde muito bem àquilo a que ele se propôs a fazer. O roteiro, embora seja cheio de falhas e coisas incompreensíveis e estúpidas, atira pra todos os lados e agrada a quase todos os públicos, porque ele faz rir nos momentos de maior humor; emociona nas cenas que passam um pouco mais de dramaticidade; impresiona nos efeitos das batalhas, na modificação da forma dos personagens e na destruição em massa dos cenários; e ganha pontos extras na própria maneira de narrar a história, bem mais atraente e que flui mais fácil que a edição anterior. Acho que dessa vez Michael Bay se preocupou menos em demonstrar seu poderio tecnológico pra realizar efeitos pirotécnicos de explosões e batalhas estratosféricas pra contar uma história mais concisa e verossímel - se é que dá pra ser verossímel num contexto desses. Enfim, o fato é que o filme não é lá tão ruim quanto cantam por aí, e é sim muito melhor que o seu anterior.
Trailer:
Nota: 7,5

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

As 5 cenas mais angustiantes do cinema

A equipe em peso do "aqui na poltrona" - no caso, eu mesmo - passou a semana inteira vendo e revendo vários e vários filmes pra elaborar essa lista de cenas que causam uma verdadeira síncope naquele que as assite, que fazem você se contorcer na cadeira de tanta agonia e em seguida acelerar a cena pra que a tortura acabe mais rápido. Lembrando que ela ainda não é, nem nunca será definitiva, haja vista que sempre haverá um filme injustiçado que foi por mim esquecido ou simplesmente que ainda não foi visto e contabilizado no meu arquivo memorial. Então vai essa mesmo.

#5: A cena em que o casal de mergulhadores de "Mar Aberto" vem à tona e descobrem que foram esquecidos pelo resto da tripulação (relativamente pequena, diga-se de passagem, o que é mais estranho) no meio do oceano, cercados de tubarões sedentos, muita água, o silêncio e mais nada. Eu sempre tive uma fobia séria com o mar, ver essa cena então foi meio que encarar meus medos da forma mais crua e direta possível. Foi tenso o negócio:

#4: Lembro de ter ficado extremamente chocado, ainda criança, com a cena em que "O anjo malvado" Macaulay Culkin derruba propositalmente a própria irmã mais nova na parte mais frágil do lago congelado, fazendo-a despencar pelo buraco e ser levada pela correnteza dando socos inúteis no gelo espesso sobre sua cara. Fiquei sem ar quando vi e talvez daí venha a resposta da minha fobia por água em excesso de quantidade, vai saber... Não achei a imagem da cena propriamente dita, mas vai essa à título de ilustração:

#3: "O Iluminado" por si só já é algo angustiante. Eu poderia citar o filme na íntegra como exemplo, mas ressalto essa em especial porque ela dá uma gás extra na liberação de adrenalina no sangue, te preparando pra fugir ou pra brigar a qualquer momento. Nela, Jack Nicholson, no papel do insano Jack Torrance, tenta abrir à base de machadadas a porta do banheiro de um hotel imenso e vazio pra matar a própria esposa e o filho que se encontram do outro lado da porta. A cena seguinte em que ele os persegue pelo labirinto coberto de neve é outra que também corta o fôlego na hora:

#2: Essa é, na minha opinião, a melhor cena de "A Vila". E não é somente porque ela deixa os nervos à flor da pele, mas também porque ela é brilhantemente editada e dá gosto de se ver. Ela acontece durante uma das invasões que os tais "monstros" fazem na pacata e misteriosa vila de séculos atrás, e na qual todos os moradores correm e se escondem em suas casas, enquanto que a personagem abaixo, que é completamente cega, sai porta a fora à procura de alguém que estaria do lado de fora. Ela então estende sua mão na esperança de alcançar essa pessoa, nesse momento a imagem focaliza apenas a sua mão estendida e mais ao fundo um vulto embaçado de um dos monstros se aproxima indo ao poucos de encontro a ela. O que acontece depois quem viu sabe, quem não viu, veja. A cena, que acontece toda em câmera lenta e ao som de violinos, faz arrepiar os cabelos das mãos, dos braços, dos pés e do corpo inteiro:

#1: Pra fechar, mais uma em câmera lenta. Nela, Jodie Foster e sua filha estão presas no "Quarto do Pânico", tentando fazer algum contato com o mundo enquanto ladrões circulam pela sua sala tentando entrar no referido quarto. Ao perceber a ausência deles, ela resolve sair do tal quarto e pegar o celular que havia sido colocado na cabeceira de sua cama. E como à princípio nada dá certo nesses filmes, ela acaba derrubando coisas pelo caminho o que faz com que os bandidos subam as escadas em disparada, enquanto o celular escorrega pelas suas mãos por debaixo da cama e dos lençois numa cena, também em slow motion, que faz o coração ir de 0 a 100 em 5 segundos:

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Borat"

Eu realmente não sei se gostei ou não de "Borat". Sendo bastante sincero, o achei extremamente apelativo e sinto que algumas piadas que teoricamente dariam o humor da grande viagem do personagem, me provocaram mais vergonha do que risos propriamente dito. Ao longo do filme, Sacha Baron Cohen tenta fazer graça em cima de temáticas morais e polêmicas a partir de diálogos e situações com pessoas no meio da rua e com alguns membros de organizações, expondo-os em situações ridículas e constrangedoras, o que pra mim não tem graça nenhuma. Eu mesmo ficaria num estado de cólera e raiva muito grande se visse uma cena de mim mesmo sendo sacaneado na tela de um cinema, da mesma forma também não gosto de ver terceiros nessa mesma situação. E o filme é focado justamente nisso, em fazer piadas jocosas e polêmicas à respeito da crença e opinião de pessoas comuns assim como eu e você, no meio da rua ou em qualquer outro lugar.

Eu acredito na existência de uma coisa chamada liberdade de expressão e defendo muito isso. Respeito o ponto de vista de cada um e o direito que cada um possui de pensar e agir como bem entender. Porém, existe outra coisa, não menos relevante, chamada limite. E é ele quem define até que ponto se pode chegar sem perder o fio da meada e a essência do que se está fazendo. No caso de "Borat" - repito: segundo a minha opinião - o filme deixa cair por terra toda a diversão no momento em que ultrapassa esse limite do que pode e do que não pode ser feito com qualquer outra pessoa pra provocar risos em quem assite àquilo. O mundo não é esse circo repleto de palhaços. Estamos falando de pessoas, de valores e de moralidade. Isso é algo muito relativo e muito sutil, o que é permitido e aceitável pra mim pode não ser pra você e vice-versa, por isso mesmo o sinal de limite deve ficar alerta o tempo inteiro. Já com "Borat" esse sinal aparentemente deve estar com defeitos ou ele simplesmente o ignora, o que é ainda pior.

Não nego que o filme também carregue seus momentos engraçados. Ri em algumas passagens, mas nada que me desse dores de barriga ou nos queixos de tanto gargalhar, passou muito longe disso. Mas depois de alguns minutos esse riso cedeu lugar pra qualquer outra coisa que não diversão, fiquei incomodado mesmo com o que vi e temo pelo que possa vir pela frente, já que nessa sexta (14/08/09) estréia o novo filme de Sacha Baron Cohen, "Brüno", que promete continuar seguindo a mesma lógica do seu antecessor. Mas essa fórmula da chacota alheia, como já disse, não me agrada nenhum pouco. E se no início do post eu cheguei a demonstrar qualquer dúvida com relação ao filme, aqui eu desfaço e afirmo: não gostei mesmo de "Borat", não é uma boa comédia e não recomendo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"O curioso caso de Benjamin Button"

É uma completa alegoria sobre o tempo e a vida. E faz com que você reflita por horas sobre o que você fez e faz com o tempo que lhe foi dado e te questiona sobre como será tudo daqui pra frente. No final das contas, somos todos como Benjamin, e o fato de ele ter nascido velho, fazendo o percurso contrário da ordem da vida, faz apenas com que prendamos ainda mais nossa atenção no ponto central do filme que é viver e aceitar a vida de acordo com nossas possibilidades, e com essas possibilidades determinar nossas escolhas, e se elas aparentemente não nos permitirem que o desejado seja alcançado, então temos a chance de superá-las, de ir um pouco mais além, e de simplesmente tentar e ousar um pouco mais e não aceitar tudo tal como nos aparece.

E esse horizonte largo de esperança e possibilidades inúmeras representado pela vida de Benjamin é identificado nas ações de quase todos os demais personagens da história. Seja na senhora de 68 anos que consegue atravessar o canal da mancha, seja no capitão de rebocador que se torna artista, no cara simples que conhece toda a obra de Shakespeare, na mulher que se achava estéril mas que finalmente consegue gerar um filho ou no pai que ainda espera o retorno do filho vivo, porém, já morto pela guerra.

Quando vemos um filme, cada um experimenta os acontecimentos da sua forma, mas, se você quer saber, vejo a questão do relógio que funciona em sentido contrário, tal qual o relógio biológico de Benjamin, como um representante da brevidade da vida, que o tempo é pouco, curto e já começa a se findar desde o momento em que nascemos. Pontanto não o desperdice, não o use como justificativa para explicar os seus medos e adiar o que ainda pode ser feito. Não existe ações ou atitudes adequadas pra cada fase da vida, ela é uma só e sempre é tempo para se fazer o que se deseja. Tudo se resume em entender isso e pôr em prática a lógica de tomar nas mãos as rédeas da própria vida e não desperdiçar nenhum segundo disso.

O interessante é que o filme leva duas horas e quarenta minutos de projeção pra defender essa idéia, mas em hora alguma ele demonstra ser chato ou cansativo. Pelo contrário, é apenas pura aparência, e aí a brevidade surge então mais uma última vez, mostrando que o tempo pode causar malefícios sobre quase tudo, menos em quem sabe usá-lo a seu favor e fazer bom uso dele.

domingo, 9 de agosto de 2009

O "aqui na poltrona"

Na verdade é um spin-off do meu outro blog que apesar de não possuir um tema determinado, vez ou outra tem o cinema como foco. Em vista disso resolvi criar esse sítio em que você se encontra agora e que tem o propósito de se dedicar única e exclusivamente ao mundo do cinema e de filmes em geral. E é basicamente isso mesmo.

Na falta de pessoas físicas que suportem discutir essa temática no mesmo grau de paixão que eu, solto o verbo pela rede pra quem sabe encontrar aqui o eco que procuro. Ou não. Quero mesmo é falar abertamente daquilo que me proporciona um prazer absurdo na vida que é falar, ver e ouvir cada vez mais sobre cinema. E é isso o que farei aqui. Falando dos "cabeças" e dos "pipocas", do que presta e do que não deveria nem ter existido, porque não interessa de onde seja, do que se trate e de como foi gerado, filmes são feitos pra serem vistos, e depois de vistos, serem elogiados massivamente ou massacrados até o fim.

O importante é continuar seguindo, ajudando a produzir e contribuindo de alguma forma com isso tudo. Indo na sala escura ou reproduzindo-as no conforto de casa, e assim continuar prestigiando essa arte que condensa em uma só todas as outras já produzidas na historia da humanidade.