segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Pulp Fiction"

Quando eu vi "Pulp Fiction" pela primeira vez, lá pelos meus 12 ou 13 anos, eu lembro de não ter entendido quase nada do que se tratava a trama, me perdi totalmente na sequência de cenas e se tivessem me perguntado naquela época o que eu tinha achado, eu provavelmente teria dito que era um filme sem pé nem cabeça mas que me deixava extasiado por algum motivo que eu não sabia qual era, mas que se devia em grande parte ao fato de mostrar situações que ocorrem no mesmo local e ao mesmo tempo só que em passagens distintas do filme. Isso pra mim era o ápice, me dava a sensação de poder ver tudo sob uma perspectiva maior como nunca tinha acontecido antes, e isso bastava pra explicar o meu fascínio por essa obra do Tarantino.

E ontem, quase 10 anos depois, revi o filme. Comprei ele há uns meses, porém só ontem encontrei uma brecha pra me dedicar inteiramente às duas horas e meia de exibição aqui em casa. Acontece que voltei no tempo e resgatei todo meu fascínio de antes. Pouquíssimos filmes conseguem atingir o grau de completude de "Pulp Fiction". Atuação, direção, fotografia, edição, trilha sonora... e que trilha, meu Deus. É um filme que não falta nada, tem lá suas pequenas falhas técnicas, mas pra mim é a perfeição e briga com mais dois outros filmes o topo da minha lista de melhores filmes de todos os tempos.

Eu acredito que esse poder de atração que existe em torno do filme ocorre em decorrência do fato de que ele fala em uma linguagem que se iguala perfeiamente à do público. O enredo nada mais é do que gângsters, vestindo seus papéis de gângsters, mas que quando estão fora dessa posição agem, falam e pensam como qualquer um de nós. Pensam e falam bobagens como todo mundo faz, discutem as futilidades comum ao cotidiano e utilizam o discurso vazio e sem consistência que predomina na sociedade atual. E olha que lá se vão 15 anos desde o lançamento, mas o fato é que ele poderia ter estreado ontem que ainda continuaria fazendo todo o sentido.

Outro ponto relevante é a gratuidade da violência. Morrer e matar ali atingiu um limiar no qual o estranho mesmo é quando elas não ocorrem, o incômodo não é mais o ato de matar, mas limpar os resquícios disso, se preocupar em livrar-se do corpo em detrimento da perda da vida. Assim como também do vício escancarado, das drogas de todos os tipos, dos desvios de conduta, do que é preciso fazer pra sobreviver, pra manter o mínimo de integridade e dignidade. E outras coisas do tipo.

É um filme pop na conotação mais abrangente da palavra. Possui seus momentos fortes e pesados, mas é algo muito prazeroso de ser visto tamanha é a dedicação e o empenho ali marcados em todas as cenas. Além disso tem uma dinâmica ligada no 220w, e te surpreende a cada instante. Fala de coisas que estamos consados de saber, mas de uma forma tão clara e evidente que isso parece fugir à nossa percepção. É música, tevê, violência totalmente banalizada e cinema reunidos em um só lugar e que consegue ao mesmo tempo fazer sua crítica social baseada nisso. É um filme que já nasceu clássico, sem pretensão nenhuma de se tornar o que é hoje e talvez por isso tenha dado tão certo e seja tão bem resolvido. Simplesmente incomparável e inconfundível. E merece muito ser sempre visto ou revisto.

Trailer:



Nota: 10,0.

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