domingo, 20 de setembro de 2009

"G.I. Joe - A Origem de Cobra"

"G.I. Joe" não é um filme de diálogos, de discussão, de enrolação e lenga-lenga. É ação ininterrupta do começo ao fim, e talvez por esse motivo não se tenha muito o que comentar à respeito dele. É mais um blockbuster que se vale de balas, tiros, explosões e muito efeito gráfico pra justificar a ida do público ao cinema. E é exatamente isso o que esse tipo de público procura, nada complexo demais, nada complicado, a regra é entregar tudo mastigado e pronto pra ser absorvido.

Excetuando os excessos e as pequenas falhas da história e analisando o filme pela perspectiva de um fã do gênero, o filme é sim muito bom. Diverte e distrae mas sem incomodar o seu lado mais crítico e exigente. É rápido, contínuo e não deixa o espectador descansar em momento nenhum, é ação seguida de ação, disparo atrás de disparo, explosões múltiplas e tudo isso em um só fôlego. O filme inteiro parece ser uma única e longa disputa entrecortada com breves momentos de pausa, e essa agilidade toda pode até te confundir e te cansar em algumas passagens, mas o desenrolar dos acontecimentos faz com que você esqueça isso, até porque o filme é bastante competente naquilo a que ele se propôs a fazer.

É o típico filme pra se ver no domingo pelo fim da tarde pra passar o tempo, mas nada além disso. Eu poderia até dizer que ele é do tipo descartável, o que de certa forma ele também o é, porém, em alguns momentos da vida faz bem desafogar a cabeça e liberar a adrenalina acumulada em filmes dessa categoria. Mas não espere nada de mais elaborado e profundo porque isso, definitivamente, ele não é. É diversão, entretenimento e só, nada além disso. Então dê um desconto, veja e desestresse porque isso em si já é algo que todos nós precisamos uma hora ou outra.

Trailer:


Nota: 4,0

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

As 5 criaturas mais bizarras do cinema

Bizarro não é somente o feio, o grotesco e o estranho, é também aquilo que de alguma forma lhe causa um incômodo, um desconforto que surge apenas de olhar praquela figura estampada na tela. E o cinema é repleto dessas criaturas, e muitas delas são tão bizarras, incomuns e exóticas que acabam conquistando o público e provocam o efeito contrário do que foi dito acima, mas isso vai de lucro e não modifica o fato de elas serem bizarras e continuarem assim pela eternidade. Eis aquelas que eu considero dignas de uma ressalva maior, cada uma delas com seu motivo espeicífco que faz jûs a esse reconhecimento.

5: Não se sabe ao certo se ele é bom ou ruim, aliás, há momentos em que nem ele próprio tem certeza alguma de quem ele é, mas o fato é que Sméagol/Gollum é a criatura mais estranha de toda trilogia "O Senhor dos Anéis". E a mais inconstante também, você vê o filme e simpatiza com ele e o detesta o tempo inteiro, o que não dá é ficar indiferente tamanha é a bizarrice desse "sei lá o que diabos ele é" e a sua obsessão pelo tão desejado anel:

#4: A bizarrice do faltoso monstro de "Cloverfield" se deve justamente à questão da ausência desse personagem durante toda a narrativa. É um monstro que não se vê, que não se conhece a não ser pelos estragos que ficam pelo seu caminho. E o mais interessante é que esse medo/terror do que não se sabe tem um efeito mais forte e direto do que qualquer tecnologia ou computação gráfica pudesse ter feito. É o clima e o ambiente que dão o tom de suspense, são as imagens que amedrotam, o monstro nesse caso poderia ter até distorcido todo o conceito por trás da idéia e não teria forma ou figura concreta que substituísse isso. Então deixa ele subtendido, deixa a sugestão porque não teria bizarrice que alcançasse esse feito:

#3: As cenas do Sloth de "Os Goonnies" me davam um certo pânico e longas horas insones durante a noite quando eu era criança e via esse filme repetidas vezes na tevê. O enjeitado filho da família de vilões não era lá tão vilão assim, mas que ele tinha uma aparência pra lá de bizarra, grotesca e estupidamente indigesta, isso não se pode negar:

#2: O homem-torso de "Freaks", sem braços e sem pernas. Precisa comentar mais alguma coisa? É só rever a cena em que ele se locomove pelo cenário se arrastando feito cobra no chão. Bizarrice top de linha:

#1: Fico imaginando como que uma pessoa consegue conceber uma criatura dessas e o que se passa pela cabeça dela durante o processo de criação. Esse não é somente bizarro como também é cuidadosamente bem feito, em todos os detalhes, em todos os sentidos, desde a sua concepção. O tal "monstro com os olhos nas mãos" de "O Labirinto do Fauno" pensa e enxerga pelas mãos, tem uma dieta que inclui fadas e crianças e mesmo assim ainda resulta em um efeito bizarro e esquisito sim, mas também brilhantemente trabalhado e bonito aos olhos de quem vê:

domingo, 13 de setembro de 2009

"Sideways - Entre umas e outras"

Acontece que de uns tempos pra cá, as produtoras - ou sabe-se lá quem seja o responsável por isso - teimam em rotular certos filmes como "comédia", simplesmente porque não se encaixam perfeitamente na definição de qualquer outro gênero. Isso aconteceu com "Pequena Miss Sunshine", por exemplo. E agora vejo que com "Sideways" a história não foi diferente. Esses filmes não são comédias de jeito nenhum, pelo menos não no sentido mais restrito da palavra. Tá certo que existe meia dúzia de passagens com uma dose a mais de humor, mas eles também estão cheios de momentos mais dramáticos e densos e nem por isso os rotularam como "drama", o que seria, na minha opinião, algo bem mais plausível. Mas se a produtora/distribuidora acha isso mais rentável e comercial, deixa eles. Esses detalhes não influem de qualquer forma no resultado final da obra. Agora se você pretende alugar/comprar esses filmes com a única finalidade de rir, pode esquecer, pois eles estão longe disso. Eles são dramas e pronto. No máximo "dramédias", mas classificá-los como comédia-COMÉDIA mesmo, isso tá longe de fazer qualquer sentido.

Agora, referindo-me apenas a "Sideways", o achei bastante interessante porque ele circula o tempo todo por sentimentos opostos, passando por risos e momentos onde quase se vertem lágrimas, por discussões estúpidas e diálogos filosóficos, por bobagens caucadas em acontecimentos sérios e discursos dramáticos regados a muito álcool que não tinham o menor fundamento. E é nessa mistura de pontos de vista contraditórios que a história se faz, opostos que se concretizam muito bem na imagem dos dois protagonistas: de um lado um inconsequente bon vivant, fanfarrão e do outro um depressivo e amargurado professor com o ego ferido pelo divórcio e pela vida que leva.

O mais estranho é que no filme, o tom amargo e depressivo que existe na maior parte do tempo, divide o espaço com cenas e imagens que remetem a tudo menos à depressão. São poucas as passagens noturnas, por exemplo. A maioria delas são cenas diurnas, cheias de luz, no meio dos vinhedos, nas estradas e isso, mesmo não condizendo teoricamente com a "tristeza" da vida de Miles (Paul Giamati), tem seu caráter mais melancólico, inicialmente não parece, mas tem. E isso só se torna perceptível por intermédio dos diálogos, são eles que conferem a densidade da narrativa, enquanto que o cenário exerce uma função contrária e meio que equilibra a situação e não deixa o melodrama cair no exagero.

Na trama, dois amigos tiram uma semana pra viajar pelos vinhedos dos EUA, e meio que fazem dessa viajem a despedida de solteiro de um, enquanto que pro outro acaba sendo como uma reavalição de sua vida. E o vinho é uma outra constante na narrativa, ele tá sempre inserido em algum momento, seja fisicamente, seja diluído no meio dos diálogos. Faço uma ressalva pro momento em que o personagem de Giamatti conversa com a garçonete Maya na varanda da casa e os dois fazem uma metáfora da vida comparando-a ao vinho, ou dando vida à colheita e ao vinho, alguma coisa do tipo. É realmente uma das cenas mais importantes do filme, pra mim, a melhor de todas.

Sendo bastante sintético, eu poderia dizer que é um filme sobre a amizade entre duas pessoas, mas não é só isso. Aliás, não é nada disso. Talvez ele trate mais profundamente a questão da mudança, de seguir com a vida quando ela parece amarrada a alguma coisa que não a deixa seguir em frente. E essa coisa pode ser uma pessoa, algo não resolvido no passado, um trabalho rejeitado, enfim. Cada um tem sua pedra imensa na vida. Só resta aprender a lidar e o que fazer com ela. Alguns demoram mais, outros menos. Mas isso não é regra, não é fixo, não é igual pra todos. Varia de pessoa pra pessoa e cada um se resolve de acordo com seu tempo.

Trailer:



Nota: 8,5

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"O fabuloso destino de Amélie Poulain"

Já perdi as contas de quantas vezes assisti à saga de Amélie Poulain e sua busca por fazer da vida dos outros e do mundo algo menos cinza e mais prazeroso. Às vezes ponho o dvd pra conferir o trailer ou o material extra e acabo revendo o filme inteiro, com o mesmo entusiasmo de quando o vi pela primeira vez. E confesso que não me canso, ele tem uma história que flui muito fácil, tem vida própria, vai além do que se vê na tela e parece que se renova, cada vez surgindo um aspecto novo que antes não fora notado, refletindo e dialogando com o próprio espectador e isso se deve principalmente a questão da identificação e da química imediata que se faz com a protagonista.

Amélie é uma das personagens mais carismáticas da história do cinema. E por causa disso se torna quase impossível não se comover e não simpatizar com os acontecimentos de sua vida, com suas ações e seu jeito único de perceber as coisas ao seu redor. Assim como também não tem como não deixar de ver um pouco de si próprio quando nos deparamos com os eventos da narrativa, com o sobe e desce dos acontecimentos, com as conquistas, com as tristezas e com os pequenos prazeres da vida.

Esteticamente falando, é uma obra muito bem trabalhada. Tem um tratamento fotográfico primoroso, as cenas são quase que completamente mergulhadas em uma tonalidade de verde que se tornou quase que uma marca registrada, e você acaba identificando qualquer cena do filme à léguas de distância. E outra que os efeitos especiais são tão simples que acabam chamando atenção justamente por essa simplicidade, em não fazer um grande alarde com exageros e apenas utilizar isso pra ressaltar e enfatizar as sensações expressas pelas personagens, seja em um batimento cardíaco mais acelerado, em um golpe de felicidade repentino no meio da rua ou no orgulho sentido por ter feito algo certo ou bem feito.

É um filme aparentemente biográfico, mas que se agarra a isso apenas pra falar de coisas inerentes a cada um de nós, das queixas e dos prazeres da vida, da simplicidade que pulsa o tempo todo no filme e que por ser algo tão comum se torna difícil explicar com palavras, bom mesmo é ver e compreender por si mesmo. É mais um daqueles que não requer qualquer explicação mais aprofundada, é algo feito pra ser visto e depois disso mudar sua forma de encarar o mundo e as pessoas a sua volta. Foca exatamente nas coisas pequenas e abre nossos olhos pro que antes não era percebido ou que então era negligenciado por causa da correria do dia a dia. É daqueles que realmente modifica o seu humor, lhe deixa com um sorrizão na cara, com um baita sentimento de nostalgia, feliz da vida e sem saber ao certo porquê.

Trailer:


Nota: 10,0

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Pulp Fiction"

Quando eu vi "Pulp Fiction" pela primeira vez, lá pelos meus 12 ou 13 anos, eu lembro de não ter entendido quase nada do que se tratava a trama, me perdi totalmente na sequência de cenas e se tivessem me perguntado naquela época o que eu tinha achado, eu provavelmente teria dito que era um filme sem pé nem cabeça mas que me deixava extasiado por algum motivo que eu não sabia qual era, mas que se devia em grande parte ao fato de mostrar situações que ocorrem no mesmo local e ao mesmo tempo só que em passagens distintas do filme. Isso pra mim era o ápice, me dava a sensação de poder ver tudo sob uma perspectiva maior como nunca tinha acontecido antes, e isso bastava pra explicar o meu fascínio por essa obra do Tarantino.

E ontem, quase 10 anos depois, revi o filme. Comprei ele há uns meses, porém só ontem encontrei uma brecha pra me dedicar inteiramente às duas horas e meia de exibição aqui em casa. Acontece que voltei no tempo e resgatei todo meu fascínio de antes. Pouquíssimos filmes conseguem atingir o grau de completude de "Pulp Fiction". Atuação, direção, fotografia, edição, trilha sonora... e que trilha, meu Deus. É um filme que não falta nada, tem lá suas pequenas falhas técnicas, mas pra mim é a perfeição e briga com mais dois outros filmes o topo da minha lista de melhores filmes de todos os tempos.

Eu acredito que esse poder de atração que existe em torno do filme ocorre em decorrência do fato de que ele fala em uma linguagem que se iguala perfeiamente à do público. O enredo nada mais é do que gângsters, vestindo seus papéis de gângsters, mas que quando estão fora dessa posição agem, falam e pensam como qualquer um de nós. Pensam e falam bobagens como todo mundo faz, discutem as futilidades comum ao cotidiano e utilizam o discurso vazio e sem consistência que predomina na sociedade atual. E olha que lá se vão 15 anos desde o lançamento, mas o fato é que ele poderia ter estreado ontem que ainda continuaria fazendo todo o sentido.

Outro ponto relevante é a gratuidade da violência. Morrer e matar ali atingiu um limiar no qual o estranho mesmo é quando elas não ocorrem, o incômodo não é mais o ato de matar, mas limpar os resquícios disso, se preocupar em livrar-se do corpo em detrimento da perda da vida. Assim como também do vício escancarado, das drogas de todos os tipos, dos desvios de conduta, do que é preciso fazer pra sobreviver, pra manter o mínimo de integridade e dignidade. E outras coisas do tipo.

É um filme pop na conotação mais abrangente da palavra. Possui seus momentos fortes e pesados, mas é algo muito prazeroso de ser visto tamanha é a dedicação e o empenho ali marcados em todas as cenas. Além disso tem uma dinâmica ligada no 220w, e te surpreende a cada instante. Fala de coisas que estamos consados de saber, mas de uma forma tão clara e evidente que isso parece fugir à nossa percepção. É música, tevê, violência totalmente banalizada e cinema reunidos em um só lugar e que consegue ao mesmo tempo fazer sua crítica social baseada nisso. É um filme que já nasceu clássico, sem pretensão nenhuma de se tornar o que é hoje e talvez por isso tenha dado tão certo e seja tão bem resolvido. Simplesmente incomparável e inconfundível. E merece muito ser sempre visto ou revisto.

Trailer:



Nota: 10,0.

domingo, 6 de setembro de 2009

"Arraste-me para o inferno"

Existe muito filme de terror por aí que tenta provocar medo e suspense, mas que de tão tosco, estúpido e mal feito acaba provocando o efeito oposto e provoca risos em decorrência da inconsistência do roteiro, da direção e da atuação dos profissionais envolvidos na produção. Na contramão disso, existem filmes que se encaixam em outro perfil de terror que também possuem resquícios de comédia, porém, de forma proposital, pensada e objetivada nesse fim e não acidental como o que é mais comum hoje em muitos filmes do gênero.

Eu mesmo não conhecia na prática a definição de "terrir" até assistir "Arraste-me para o inferno" - aliás, que título! -, o novo filme do diretor Sam Raimi depois de passar anos e anos se dedicando à franquia "Homem-Aranha". "Arrasta-me..." traz um terror muito peculiar que provoca risos ao invés de medo, um tanto de asco e nojo no lugar de sustos e muitas situações que de tão absurdas caberiam mais fácil em comédias pastelão se não fosse o clima sombrio e macabro presentes quase que integralmente na história.

Vale ressaltar que esse, com toda certeza, também não é um filme feito pra todos. E se você tiver o estômago fraco e se impressiona e sente nojo com facilidade, é melhor procurar outra coisa pra ver, pois esse é um filme que tem os dois pés afundados na escatologia, no grotesco, dando um passo além do limite do bom senso e do aceitável no que se refere ao uso de flúidos e substâncias corporais, assim como também do uso de larvas, lama, sacrifícios animais e coisas do gênero que testam a sua paciência e a sua capacidade de suportar cenas que não medem esforços em provocar asco e brincam o tempo todo com o nojo de quem assite.

O filme inteiro é repleto de cenas impagáveis, muito bem elaboradas e que deixa a gente querendo ver tudo novamente logo quando se chega ao fim. A cena da briga no estacionamento, por exemplo, é uma que daria pano pra muita discussão por entre risos e outros questionamentos. Afinal, como que uma pessoa sendo asfixiada e atacada por uma velha caquética e literalmente a um passo da morte consegue arquitetar um plano de contra-ataque tão rápido e tão eficiente daquele jeito?! Que tipo de pessoa já tem armada dentro do próprio depósito de quinquilharias em casa, uma bigorna suspensa por cordas pronta pra ser lançada na cabeça de alguém?! São perguntas que ficaram abertas após a exibição, mas que pra mim não necessitam mesmo de qualquer resposta. Esse não é o tipo de filme que precise de explicações e teorizações complexas e inúteis. Ele é feito pra entreter, passar o tempo. Então desligue o cérebro por pouco menos de duas horas, assista, divirta-se e seja feliz.

Nota: 6,0

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

"Seven - Os sete crimes capitais"

O grande problema das produções de hoje é que muita coisa já foi feita ao longo da história do cinema. Muita idéia boa já foi utilizada e inovar se tornou artefato cada vez mais incomum na telona e, como consequência, às vezes temos a sensação de estar vendo sempre a mesma coisa, a mesma fórmula sendo repetida e repaginada vergonhosamente pra tentar amenizar a falta de criatividade dos profissionais de hoje. "Seven", por sua vez, foge a regra e não é só mais um mero filme de suspense policial, daqueles forrados de clichês. Ele vai muito além disso e inova do começo ao fim, desvirtuando toda a lógica dos suspenses anteriores a ele e com certeza a de muitos que ainda virão.

Eu acredito que um dos pontos a favor de "Se7en" seja colocar a lógica do assassino mais próxima da nossa realidade (se é que dá pra descrever isso nesses termos). O que quero dizer é que ele simplesmente não patologizou o assassino e utilizou isso pra justificar seus atos, mas antes disso resolveu dar um nexo aos atos dele, os tornou coerentes a partir de algo comum a todos nós - os sete pecados capitais - e assim criou essa lógica que embora seja algo completamente abominável, nos ajuda a compreender o nexo por trás de todos aqueles crimes que não eram mais apenas simples assassinatos, eles tinham um sentido e um porquê que poderiam ser explicados e compreendidos com base na nossa cultura, era mais ou menos como uma punição ao que causamos a nós mesmos partindo das mãos de uma única pessoa.

Filmes de serial-killers sempre ganham pontos a mais comigo e este conseguiu ir além de todos os outros, não porque tenha gerado um maior pânico ou angústia com o que era mostrado nas cenas, mas por ter modificado totalmente meu olhar com relação a esse gênero em específico. O clímax dele funciona como uma montanha russa que sobe e termina exatamente após a queda livre, despenca lá do alto com uma adrenalina fervente e cessa apenas minutos após a exibição dos créditos que vem logo em seguida. E a inovação dele se dá justamente porque a série de crimes se segue até mesmo após a morte do tal assassino, aliás, sua morte se torna uma continuidade desse raciocínio e o ponto inovador da história se encontra exatamente aí, ele é vítima dos seus próprios atos e peça principal no que determinaria o seu assassinato. Mas isso só assistindo pra entender.

E é ainda em "Seven" que David Fincher inicia sua parceria de grande êxito com Brad Pitt e que teria continuação em 1999 com "Clube da Luta" e mais recentemente com "O curioso caso de Benjamin Button". Mais dois grandes filmes mais que recomendados, ítens obrigatórios na lista de qualquer cinéfilo que se preze e também praqueles que buscam apenas diversão e entretenimento. Os filmes de Fincher conseguem alcançar ambos os fins, com uma qualidade sem igual e que não se compara a nada com que você tenha visto anteriormente. É diversão certa e cinema de primeira linha, tudo junto em um combo ideal.

Trailer:


Nota: 9,0

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"As virgens suicidas"

Eu compartilho da idéia de que as coisas só funcionam mesmo quando elas se mantêm em equilíbrio. Nada exagerado demais agrada na maioria das vezes e pecar por falta também não. Na dúvida, pese os dois lados e decida pelo meio termo que as chances de tudo dar certo são infinitamente maiores. E foi exatamente isso o que Sofia Coppola fez na sua estréia como diretora.

"As virgens suicidas" tinha tudo pra ser um filme excessivamente feminino/feminista porque foi dirigido, escrito e tem esse gênero como foco principal da trama. A própria estética das cenas já remetem à delicadeza e aos detalhes que geralmente apenas as mulheres conseguem dar conta com maior facilidade. Mas o fato é que não, o filme não se perde nesse possível exagero e sabe utilizar isso muito bem pra sustentar os argumentos da história. O resultado foi um filme curto, rápido, que não te deixa disperso e tem uma certa leveza em evidência mesmo tratando de um tema tão pesado e soturno como o suicídio; pior: o suicídio coletivo; e mais grave ainda: o suicídio nos primeiros anos da adolescência.

Eu não pretendia ter falado isso como se fosse um spoiler, porque não é. O próprio título já antecipa esse fato e eu fico tranquilo com relação a isso. Mas adianto que o filme começa com um único suicídio e termina com vários ao mesmo tempo, porém, o interessante mesmo é ver e entender o porquê disso ter acontecido, e como esse processo foi sendo desencadeado no decorrer dos acontecimentos da história. É uma narrativa que tem uma perspectiva de conto, sem começo e sem um fim delimitado, que deixa as conclusões e as respostas pra serem feitas dentro da cabeça do espectador e já vale apenas pelo cuidado e pelo tratamento dado a um tema tão polêmico e tão forte em um contexto aparentemente bem "menininha", mas que sabe mexer com todo tipo de público no ponto exato e na medida certa.

Trailer:


Nota: 7,5

sábado, 29 de agosto de 2009

"O contador de histórias"

Talvez a pior parte do amadurecimento seja mesmo ter que perder a ingenuidade e a fantasia pulsante que existe no olhar de uma criança, ver cada vez menos cores num mundo completamente cinza e beleza onde aparentemente só há caos e desespero. E faz um bem danado resgatar essa perspectiva que é deixada de lado depois que se cresce. Ajuda a manter viva a esperança de que um dia tudo se ameniza, e mudar e melhorar a nossa condição se torna uma opção possível de ser alcançada, mesmo quando todas as portas parecem estar fechadas e encobertas.

É exatamente isso o que Roberto (ou "Robertô") tenta nos dizer o tempo todo em "O contador de histórias", que é possível recuperar o irrecuperável, que é preciso preservar com cuidado o menor fio de esperança porque quando menos se espera surge a possibilidade que precisávamos e vemos que era esse minúsculo e frágil fio que nos sustentava de pé e é ele que nos servirá de guia durante todo o percurso.

O filme, baseando-se em relatos verídicos, relata a vida conturbada e assustadoramente forte e bonita de Roberto Carlos que encontra na FEBEM o fundo do poço e também o início do que viria a ser o divisor de águas de sua existência até então. E esse divisor de águas tinha nome, sobrenome, fumava, gostava de azul, era francesa, pedagoga e se chamava Marguerite Duvas, uma personagem real, carismática, daquelas difíceis de se esquecer porque cativa e emociona com atos e falas presentes e marcados no decorrer de toda a narrativa.

O mais interessante de tudo é poder acompanhar a visão fantasiosa de Roberto ao narrar os pontos cruciais de sua história, seja na ocasião em que sua mãe resolve que o melhor pra ele seria de fato a FEBEM e que na visão dele ganha ares de assalto a banco, com música e figurino remetendo aos anos 70, ou ainda na cena em que é mostrada a sua chegada à instituição e que nesse momento não passa de um grande picadeiro, sob uma lona colorida e onde os professores são substituídos por hipopótamos e comparados constantemente com imagens e objetos que só existem mesmo na cabeça criativa, engenhosa e mirabolante de uma criança ou na de um verdadeiro contador de histórias com talento reconhecido internacionalmente. Luiz Villaça fez uma obra que mexe com sonhos, desejos, esperança e oportunidades num contexto em que elas são cada vez mais raras. Mostra que elas são possíveis, que nada é irrecuperável, mesmo se tratando de coisas tão raras, mesmo quando o mundo inteiro afirma e grita que não. É preciso ir de encontro a isso e crer que há sempre um novo caminho por onde escapar, que há de se ter sempre esperança.

Trailer:


Nota: 8,0

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

"Sicko - S.O.S Saúde"

Michael Moore é o típico profissional multi-uso. Em seus filmes/documentários é ele quem faz praticamente tudo: produz, filma, atua, dirige, narra e ainda por cima consegue mostrar pro mundo inteiro - se dirigindo mais especificamente pro público norte-americano - que o sonho americano e o estilo de vida que se encontra por lá, não é tão colorido e invejável como se pensa e pode, muitas vezes, se tornar um completo e total pesadelo que dura 24 horas por dia, 7 dias por semana.

As imagens e as histórias que fundamentam "Sicko", assim como todos os outros filmes de Moore, se resumem em revelar um lado da história americana que não se assemelha em nada à visão que temos dos EUA enquanto gloriosa potência mundial, e que os fazem parecer socialmente pior do que muito país dito de terceiro mundo, fraco economicamente e de reduzida perspectiva social. Se em "Fahrenheit 11/09" as consequências do atentado às torres gêmeas no governo de Bush caracterizavam o cerne da trama, em "Sicko" a vítima da vez é o mercado financeiro que existe por trás do sistema de saúde norte-americano, no qual o lucro e o dinheiro poupado pelas redes de assitência particular é quem dita as regras e se relega a segundo plano a saúde e o bem-estar da população.

Pra facilitar (ou piorar) a digestão do absurdo que é o sistema de saúde dos EUA, o documentário faz um percurso por vários países do mundo, pobres e ricos, "aliados" e "inimigos" americanos, pra traçar esse paralelo e demonstrar, por A + B, que os preceitos que regem o sistema americano e os cuidados que se oferecem aos pacientes por lá são ações desprovidas de qualquer humanidade, de bom senso e de ética profissional. É um arranjo político inteiramente falho e sujo dos pés a cabeça, que já se iniciou com valores contrários ao que se pode entender por "cuidado" e por "saúde" e que se transformou em mais uma forma de se obter lucro e dinheiro como quase tudo (ou tudo mesmo) que existe em solo americano.

- Pausa pra advertência -

Só tomemos cuidado para não julgarmos e apontarmos o dedo com muita vontade, pois o nosso SUS não é, nem de longe, essa perfeição toda e se encontra abaixo do dos EUA no ranking dos sistemas em escala mundial e ainda tem muito que ser pensado e revisto pra funcionar como deveria ser.

- Fim da pausa -

"Sicko" é um longo e demorado documentário sim, mas daqueles que em hora nenhuma se torna chato. Diverte, informa, faz rir e emociona na dose certa e no momento certo. Faz o que tem de ser feito e provoca um turbilhão de pensamentos na cabeça da gente e nos permite questionar uma série dos nossos valores, assim como a política que nos governa e também nos ajuda a pôr em xeque se é essa mesma a forma e o sitema que queremos seguir e se é essa a vida que queremos. É um verdadeiro tapa na cara sisuda e prepotente de muito americano e um certeiro empurrão nas costas do mundo para que deixemos de ser tão acomodados, paremos de engolir àquilo que nos jogam e simplesmente façamos alguma coisa por nós, nem que seja reivindicar aquilo que é nosso por direito e que ninguém nos pode negar.

Trailer:


Nota: 8,0

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O melhor e o pior de Meryl Streep

'Meryl Streep' é um dos poucos nomes do cinema que consegue carregar o sucesso de um filme inteiro nas costas, que enche as salas do mundo inteiro somente pelo simples fato de estar envolvida na produção e ainda consegue, às vezes, tornar muito filme chato e ruim em algo, digamos, assistível. Mas escolher o "pior" da imensa filmografia de fimes bons dela foi fácil - veja que paradoxo. Difícil mesmo foi escolher o MELHOR. É tanto trabalho bem feito, que me decido pelo debaixo com uma pena muito grande em deixar os outros para trás. Mas assista, assista todos se puder, e então retorne aqui e me critique, me corrija, e diga se estou certo ou não em definir estes como o melhor e o pior de Meryl Streep.

#Melhor: Eu vinha decidido a colocar com toda vontade "As Horas" nesse posto. Mas refleti um pouco e percebi que do sucesso dele somente um terço é fruto do suor de Meryl Streep. Os outros dois terços se devem um à Julianne Moore e o outro à Nicole Kidman. Então achei por bem citar um título em que a atriz tivesse mais destaque e detivesse uma responsabilidade maior no resultado final da obra, daí lembrei de "As pontes de Madison", filme em que ela interpreta uma simples dona de casa que, à primeira vista, não tem do que reclamar da vida, mas que no fundo sustenta uma grande insatisfação com isso tudo e acaba se envolvendo e se apixonando por um fotógrafo que chega à cidade pra catalogar as famosas pontes de sua região, durante um período em que a família inteira se ausenta de casa e ela acaba tendo a oportunidade de se entregar por inteiro àquela relação extra-conjugal, mas que no final das contas a traz de volta do transe permanente em se achava a sua vida naquele momento. É o típico romance que conhecemos, mas sem exageros, sem pieguices, sem apelações, muito diálogo e boas atuações. No ponto exato pra quem curte o gênero.

#Pior: Não é porque eu não cultive essa admiração toda por musicais. Não se trata disso. Até porque não utilizo isso como pré-requisito pra conferir ou não uma obra, embora a grande verdade seja que musicais não me agradam mesmo. Mas admito que "Chicago" e "Moulin Rouge" são sim filmes muito bons. E essa é a prova que gêneros que você não gosta podem acabar te fazendo morder a língua, porque filme bem feito é bom de qualquer jeito, independente do estilo. Mas esse, infelizmente, não foi o caso de "Mamma Mia!". Filme ruim, bobo e tosco num grau gigantesco e nem Meryl Streep cantando conseguiu mudar minha opinião. Me desculpem os fãs do gênero e do filme em específico, mas esse é do tipo que é feito pra ir direto pro esquecimento, pro limbo e pras profundezas das obras sem jeito e sem futuro, fazendo companhia a todos os títulos da Xuxa lançados na última década e do Renato Aragão depois que colocaram um fim nos Trapalhões. O filme traz na realidade uma história muito fraca, previsível e contada (ou cantanda) da forma mais água com açúcar possível. Para diabéticos e pessoas que não se encantam com qualquer coisa, "Mamma Mia!" é, definitivamente, uma escolha mais do que equivocada. Por isso: fujam, fujam o máximo que puder.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"A vida dos outros"

Quando um filme brasileiro ganha um pouco mais de visibilidade no mercado internacional ele traz o quê como pano de fundo? Favela, tráfico, armas, drogas e etc. Com os filmes alemães a lógica segue mais ou menos o mesmo raciocínio, só que as favelas e o tráfico deles são conhecidos por nomes como nazismo, anti-semitismo, holocausto, exagero de poder por parte do estado, conspirações e afins. E como não podia ser diferente, "A vida dos outros" pisa exatamente nesses calos ainda doloridos dos pés dos alemães, não em todos obviamente, mas em alguns deles.

Esse é do tipo de filme feito para poucos. Não me refiro a esse pequeno grupo como sendo dotado de algo mais especial, como sendo mais pensante, reflexivo ou qualquer coisa do tipo. O que quero dizer é que o público para o qual ele se dirige foi e sempre será minoritário. É o típico filme pra ser visto naquelas aulas da faculdade, na qual tudo o que você quer fazer é encontrar um apoio pra cabeça e dormir. Não me entenda mal, o filme não é ruim. Só acho que existe tempo e local certos pra se assistir a filmes como esse. E se você quebrar seus preconceitos estúpidos e levar pra casa um filme como "A vida dos outros" e fazer o esforço de se dedicar a ele e fazer um favor pra si mesmo assistindo às duas horas e sete minutos que se prolongam a narrativa, vai ver que seu tempo foi muito bem investido e entender de uma vez por todas, que coisas aparentemente chatas e monótonas, fazem um bem danado pra gente de vez em quando.

O filme longo e algumas vezes um tanto quanto arrastado, toca em questões cruciais da nossa sociedade como privacidade e liberdade de expressão, ou, no caso, na ausência delas devido a um governo que se acha no direito de saber tudo de todos e que acredita poder controlar a vida de uma nação inteira por meio desse terrorismo latente, com sequestros e torturas às escusas, buscas que comprovem pensamentos contra o governo e compra do silêncio e da obediência daqueles que se submetem a esse sistema comandado por pessoas que vivem com mania de conspiração internacional.

Na trama, um escritor que tem a sua conduta posta em xeque pelos membros do partido comunista, passa a ter sua vida monitorada vinte e quatro horas por dia com escutas que tentam identificar qualquer vestígio que o identifique como um membro contrário aos interesses do governo. O que acontece é que o responsável por realizar as escutas acaba se sensibilizando com o dia a dia dos eventos na casa do investigado e passa a viver uma vida que não é a dele e que só chega até ele por intermédio de diálogos, suspiros e gemidos ouvidos através dos fones no cômodo pequeno e escuro do prédio ao lado. Até que um dia ele termina por interagir de fato com essas pessoas e se torna a peça principal dos acontecimentos ocorridos dali em diante, culminando no final forte e revelador de uma época em que inclusive pensar dessa ou daquela forma era proibido, que dirá então de agir, se comportar e dar um passo além dos fios de ventrílocos que eram postos na comunidade. Uma história pesada e cheia de denúncias que ficaram presas por muito tempo no peito de milhares de pessoas que viveram naquela época, mas que só hoje conseguem expressar o desespero e o infortúnio que era viver sob vigilância constante e onipresente do governo oriental alemão.
Trailer:


Nota: 8,0

domingo, 16 de agosto de 2009

"Rebobine, por favor"

Michel Gondry já tinha muito crédito sobrando comigo por causa de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", mas depois que vi "Rebobine, por favor" o cara virou meu ídolo pessoal e ganhou minha admiração pra eternidade. O filme é um verdadeiro presente pra quem gosta de cinema e pra quem curte comédia de qualidade, daquelas que tem personalidade e profundidade mesmo nas piadas mais toscas e escrachadas. E eu temia muito que ele ficasse somente nesse lado superficial, até porque Jack Black está no elenco, e mesmo sendo muito bom naquilo que faz, às vezes ele perde a mão quando resolve exagerar nas expressões e ultrapassa o limite do cômico pra despencar com os dois pés juntos e firmes no campo do ridículo. Mas o caso é que não, nesse ele pisou no freio, manerou na atuação e acertou em cheio no papel do cara do ferro velho magnetizado acidentalmente e de pouco juízo. Ponto, de novo, pra Gondry.

A história passeia o tempo todo em filmes que fizeram sucesso nos últimos anos e em décadas passadas, e por isso aconselho que você veja pelo menos alguns deles (como "Caça-fantasmas", "2001 - uma odisséia no espaço", "Rei Leão", "Rocky", "Robocop", "King Kong", "A hora do rush 2") antes de ver "Rebobine...", do contrário as piadas vão ficar totalmente sem sentido, e o que era pra provocar risos vai acabar gerando estranhenza, já que a graça mesmo está em ver a versão "suecada" deles das obras supracitadas, e se você não as viu, tudo vai ser tão cômico e desconexo quanto as esquetes sem graça dos programas de sábado à noite da vida dos brasileiros sem tevê a cabo - leia-se "A praça é nossa" e "Zorra Total".

Em resumo, a história se passa dentro de uma locadora onde só se locam fitas em VHS, e que, por obra do destino, acabam sendo todas danificadas em decorrência de um campo magnético que circula pelo local. E pra evitar o desapontamente de uma antiga cliente da loja, o funcionário da locadora e seu inconsequente amigo acabam tendo que refilmar eles mesmos o filme pedido por ela. E pra surpresa deles, o resultado repercute imensamente na região, o que os motiva a produzir mais e mais obras "suecadas" - como eles dizem - com o apoio de todo o bairro e que gera um produto final bem maior do que aquilo que eles imaginavam criar desde o início.

Esse filme poderia muito bem ser exibido nas salas de aula de cinema pra ensinar como se faz comédia com inteligência e sem se perder em bobagens que não causam nada na audiência se não pena e raiva por ter desperdiçado tanto tempo da vida com elas. Simplesmente impagáveis e inesquecíveis as cenas em que os dois personagens principais se camuflam pra fugir da polícia na cerca da companhia elétrica, ou naquela em que eles invadem a envidraçada locadora da concorrência, assim como também ver na prática a técnica que eles elaboram pra tranformar o dia em noite numa tomada do filme feito por eles em uma locação externa em plena tarde de sol. É filme pra ser visto e revisto com um sorriso na cara de orelha a orelha, que diverte mas não fere sua inteligência e sua paciência em hora nenhuma, como todo bom filme de comédia deveria ser.
Trailer:

Nota: 9,5

sábado, 15 de agosto de 2009

"Transformers: A vingança dos derrotados"

Confesso que fui assistir à continuação de Transformers com uma expectativa que rastejava pelo chão. Não tinha me agradado muito ver o primeiro e as críticas que ouvi referentes ao segundo eram todas, sem excessão, completamente desanimadoras. E como nesses casos eu sou um péssimo seguidor de regras, fui conferir na tela grande o motivo de tanto ódio pela imprensa "especializada" na área. Mas fique sabendo de que eles mentem às vezes, ou melhor, não sabem muito bem do que falam ou simplesmente têm um gosto diferente do seu, o que significa que você pode sim se surprender com um filme destroçado pela crítica. Minha dica é: leia as resenhas, dê ouvidos a elas se quiser, mas veja os filmes independente de qualquer coisa. Assim como eu faço. E afirmo, sem sombra de dúvidas, que "Transformers: a vingança..." é muito superior ao anterior e é infinitamente mais complexo e completo também.

A impressão que tive é que nesse longa a ênfase da narrativa foi focada mais no elenco "humano", do que nos próprios mega-ultra-poderosos-robôs-alienígenas-que-se-camuflam-de-carros e que são, no final das contas, o motivo principal da continuação ter existido. Tanto que se você for prestar atenção há mais interação e cenas com pessoas de carne e osso do que as tais disputas entre os transformers. E talvez seja por isso que a crítica tenha detestado tanto a obra. E outra que eles, os transformers, estão mais humanizados, chegando inclusive ao ponto do Bublebee chorar em uma das cenas e de outros transformers apresentarem sentimentos tipicamente humanos como ciúmes, inveja, raiva e etc. Não sou um bom conhecedor da história dos Transformers anterior aos filmes, aliás não sei absolutamente nada sobre isso, e muito menos se eles foram criados pra serem realmente assim com traços humanos, mas, na minha visão de leigo que só os conhece pelos filmes, isso serviu pra me ajudar a compreender melhor a função deles ao lado do exército americano, afinal se eles não se assemelhassem de alguma maneira com a figura humana, tal parceria nunca daria certo.

É claro que ele não chega a ser um espetáculo de filme, mas ele é totalmente bem resolvido e corresponde muito bem àquilo a que ele se propôs a fazer. O roteiro, embora seja cheio de falhas e coisas incompreensíveis e estúpidas, atira pra todos os lados e agrada a quase todos os públicos, porque ele faz rir nos momentos de maior humor; emociona nas cenas que passam um pouco mais de dramaticidade; impresiona nos efeitos das batalhas, na modificação da forma dos personagens e na destruição em massa dos cenários; e ganha pontos extras na própria maneira de narrar a história, bem mais atraente e que flui mais fácil que a edição anterior. Acho que dessa vez Michael Bay se preocupou menos em demonstrar seu poderio tecnológico pra realizar efeitos pirotécnicos de explosões e batalhas estratosféricas pra contar uma história mais concisa e verossímel - se é que dá pra ser verossímel num contexto desses. Enfim, o fato é que o filme não é lá tão ruim quanto cantam por aí, e é sim muito melhor que o seu anterior.
Trailer:
Nota: 7,5

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

As 5 cenas mais angustiantes do cinema

A equipe em peso do "aqui na poltrona" - no caso, eu mesmo - passou a semana inteira vendo e revendo vários e vários filmes pra elaborar essa lista de cenas que causam uma verdadeira síncope naquele que as assite, que fazem você se contorcer na cadeira de tanta agonia e em seguida acelerar a cena pra que a tortura acabe mais rápido. Lembrando que ela ainda não é, nem nunca será definitiva, haja vista que sempre haverá um filme injustiçado que foi por mim esquecido ou simplesmente que ainda não foi visto e contabilizado no meu arquivo memorial. Então vai essa mesmo.

#5: A cena em que o casal de mergulhadores de "Mar Aberto" vem à tona e descobrem que foram esquecidos pelo resto da tripulação (relativamente pequena, diga-se de passagem, o que é mais estranho) no meio do oceano, cercados de tubarões sedentos, muita água, o silêncio e mais nada. Eu sempre tive uma fobia séria com o mar, ver essa cena então foi meio que encarar meus medos da forma mais crua e direta possível. Foi tenso o negócio:

#4: Lembro de ter ficado extremamente chocado, ainda criança, com a cena em que "O anjo malvado" Macaulay Culkin derruba propositalmente a própria irmã mais nova na parte mais frágil do lago congelado, fazendo-a despencar pelo buraco e ser levada pela correnteza dando socos inúteis no gelo espesso sobre sua cara. Fiquei sem ar quando vi e talvez daí venha a resposta da minha fobia por água em excesso de quantidade, vai saber... Não achei a imagem da cena propriamente dita, mas vai essa à título de ilustração:

#3: "O Iluminado" por si só já é algo angustiante. Eu poderia citar o filme na íntegra como exemplo, mas ressalto essa em especial porque ela dá uma gás extra na liberação de adrenalina no sangue, te preparando pra fugir ou pra brigar a qualquer momento. Nela, Jack Nicholson, no papel do insano Jack Torrance, tenta abrir à base de machadadas a porta do banheiro de um hotel imenso e vazio pra matar a própria esposa e o filho que se encontram do outro lado da porta. A cena seguinte em que ele os persegue pelo labirinto coberto de neve é outra que também corta o fôlego na hora:

#2: Essa é, na minha opinião, a melhor cena de "A Vila". E não é somente porque ela deixa os nervos à flor da pele, mas também porque ela é brilhantemente editada e dá gosto de se ver. Ela acontece durante uma das invasões que os tais "monstros" fazem na pacata e misteriosa vila de séculos atrás, e na qual todos os moradores correm e se escondem em suas casas, enquanto que a personagem abaixo, que é completamente cega, sai porta a fora à procura de alguém que estaria do lado de fora. Ela então estende sua mão na esperança de alcançar essa pessoa, nesse momento a imagem focaliza apenas a sua mão estendida e mais ao fundo um vulto embaçado de um dos monstros se aproxima indo ao poucos de encontro a ela. O que acontece depois quem viu sabe, quem não viu, veja. A cena, que acontece toda em câmera lenta e ao som de violinos, faz arrepiar os cabelos das mãos, dos braços, dos pés e do corpo inteiro:

#1: Pra fechar, mais uma em câmera lenta. Nela, Jodie Foster e sua filha estão presas no "Quarto do Pânico", tentando fazer algum contato com o mundo enquanto ladrões circulam pela sua sala tentando entrar no referido quarto. Ao perceber a ausência deles, ela resolve sair do tal quarto e pegar o celular que havia sido colocado na cabeceira de sua cama. E como à princípio nada dá certo nesses filmes, ela acaba derrubando coisas pelo caminho o que faz com que os bandidos subam as escadas em disparada, enquanto o celular escorrega pelas suas mãos por debaixo da cama e dos lençois numa cena, também em slow motion, que faz o coração ir de 0 a 100 em 5 segundos:

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Borat"

Eu realmente não sei se gostei ou não de "Borat". Sendo bastante sincero, o achei extremamente apelativo e sinto que algumas piadas que teoricamente dariam o humor da grande viagem do personagem, me provocaram mais vergonha do que risos propriamente dito. Ao longo do filme, Sacha Baron Cohen tenta fazer graça em cima de temáticas morais e polêmicas a partir de diálogos e situações com pessoas no meio da rua e com alguns membros de organizações, expondo-os em situações ridículas e constrangedoras, o que pra mim não tem graça nenhuma. Eu mesmo ficaria num estado de cólera e raiva muito grande se visse uma cena de mim mesmo sendo sacaneado na tela de um cinema, da mesma forma também não gosto de ver terceiros nessa mesma situação. E o filme é focado justamente nisso, em fazer piadas jocosas e polêmicas à respeito da crença e opinião de pessoas comuns assim como eu e você, no meio da rua ou em qualquer outro lugar.

Eu acredito na existência de uma coisa chamada liberdade de expressão e defendo muito isso. Respeito o ponto de vista de cada um e o direito que cada um possui de pensar e agir como bem entender. Porém, existe outra coisa, não menos relevante, chamada limite. E é ele quem define até que ponto se pode chegar sem perder o fio da meada e a essência do que se está fazendo. No caso de "Borat" - repito: segundo a minha opinião - o filme deixa cair por terra toda a diversão no momento em que ultrapassa esse limite do que pode e do que não pode ser feito com qualquer outra pessoa pra provocar risos em quem assite àquilo. O mundo não é esse circo repleto de palhaços. Estamos falando de pessoas, de valores e de moralidade. Isso é algo muito relativo e muito sutil, o que é permitido e aceitável pra mim pode não ser pra você e vice-versa, por isso mesmo o sinal de limite deve ficar alerta o tempo inteiro. Já com "Borat" esse sinal aparentemente deve estar com defeitos ou ele simplesmente o ignora, o que é ainda pior.

Não nego que o filme também carregue seus momentos engraçados. Ri em algumas passagens, mas nada que me desse dores de barriga ou nos queixos de tanto gargalhar, passou muito longe disso. Mas depois de alguns minutos esse riso cedeu lugar pra qualquer outra coisa que não diversão, fiquei incomodado mesmo com o que vi e temo pelo que possa vir pela frente, já que nessa sexta (14/08/09) estréia o novo filme de Sacha Baron Cohen, "Brüno", que promete continuar seguindo a mesma lógica do seu antecessor. Mas essa fórmula da chacota alheia, como já disse, não me agrada nenhum pouco. E se no início do post eu cheguei a demonstrar qualquer dúvida com relação ao filme, aqui eu desfaço e afirmo: não gostei mesmo de "Borat", não é uma boa comédia e não recomendo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"O curioso caso de Benjamin Button"

É uma completa alegoria sobre o tempo e a vida. E faz com que você reflita por horas sobre o que você fez e faz com o tempo que lhe foi dado e te questiona sobre como será tudo daqui pra frente. No final das contas, somos todos como Benjamin, e o fato de ele ter nascido velho, fazendo o percurso contrário da ordem da vida, faz apenas com que prendamos ainda mais nossa atenção no ponto central do filme que é viver e aceitar a vida de acordo com nossas possibilidades, e com essas possibilidades determinar nossas escolhas, e se elas aparentemente não nos permitirem que o desejado seja alcançado, então temos a chance de superá-las, de ir um pouco mais além, e de simplesmente tentar e ousar um pouco mais e não aceitar tudo tal como nos aparece.

E esse horizonte largo de esperança e possibilidades inúmeras representado pela vida de Benjamin é identificado nas ações de quase todos os demais personagens da história. Seja na senhora de 68 anos que consegue atravessar o canal da mancha, seja no capitão de rebocador que se torna artista, no cara simples que conhece toda a obra de Shakespeare, na mulher que se achava estéril mas que finalmente consegue gerar um filho ou no pai que ainda espera o retorno do filho vivo, porém, já morto pela guerra.

Quando vemos um filme, cada um experimenta os acontecimentos da sua forma, mas, se você quer saber, vejo a questão do relógio que funciona em sentido contrário, tal qual o relógio biológico de Benjamin, como um representante da brevidade da vida, que o tempo é pouco, curto e já começa a se findar desde o momento em que nascemos. Pontanto não o desperdice, não o use como justificativa para explicar os seus medos e adiar o que ainda pode ser feito. Não existe ações ou atitudes adequadas pra cada fase da vida, ela é uma só e sempre é tempo para se fazer o que se deseja. Tudo se resume em entender isso e pôr em prática a lógica de tomar nas mãos as rédeas da própria vida e não desperdiçar nenhum segundo disso.

O interessante é que o filme leva duas horas e quarenta minutos de projeção pra defender essa idéia, mas em hora alguma ele demonstra ser chato ou cansativo. Pelo contrário, é apenas pura aparência, e aí a brevidade surge então mais uma última vez, mostrando que o tempo pode causar malefícios sobre quase tudo, menos em quem sabe usá-lo a seu favor e fazer bom uso dele.

domingo, 9 de agosto de 2009

O "aqui na poltrona"

Na verdade é um spin-off do meu outro blog que apesar de não possuir um tema determinado, vez ou outra tem o cinema como foco. Em vista disso resolvi criar esse sítio em que você se encontra agora e que tem o propósito de se dedicar única e exclusivamente ao mundo do cinema e de filmes em geral. E é basicamente isso mesmo.

Na falta de pessoas físicas que suportem discutir essa temática no mesmo grau de paixão que eu, solto o verbo pela rede pra quem sabe encontrar aqui o eco que procuro. Ou não. Quero mesmo é falar abertamente daquilo que me proporciona um prazer absurdo na vida que é falar, ver e ouvir cada vez mais sobre cinema. E é isso o que farei aqui. Falando dos "cabeças" e dos "pipocas", do que presta e do que não deveria nem ter existido, porque não interessa de onde seja, do que se trate e de como foi gerado, filmes são feitos pra serem vistos, e depois de vistos, serem elogiados massivamente ou massacrados até o fim.

O importante é continuar seguindo, ajudando a produzir e contribuindo de alguma forma com isso tudo. Indo na sala escura ou reproduzindo-as no conforto de casa, e assim continuar prestigiando essa arte que condensa em uma só todas as outras já produzidas na historia da humanidade.