segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"A vida dos outros"

Quando um filme brasileiro ganha um pouco mais de visibilidade no mercado internacional ele traz o quê como pano de fundo? Favela, tráfico, armas, drogas e etc. Com os filmes alemães a lógica segue mais ou menos o mesmo raciocínio, só que as favelas e o tráfico deles são conhecidos por nomes como nazismo, anti-semitismo, holocausto, exagero de poder por parte do estado, conspirações e afins. E como não podia ser diferente, "A vida dos outros" pisa exatamente nesses calos ainda doloridos dos pés dos alemães, não em todos obviamente, mas em alguns deles.

Esse é do tipo de filme feito para poucos. Não me refiro a esse pequeno grupo como sendo dotado de algo mais especial, como sendo mais pensante, reflexivo ou qualquer coisa do tipo. O que quero dizer é que o público para o qual ele se dirige foi e sempre será minoritário. É o típico filme pra ser visto naquelas aulas da faculdade, na qual tudo o que você quer fazer é encontrar um apoio pra cabeça e dormir. Não me entenda mal, o filme não é ruim. Só acho que existe tempo e local certos pra se assistir a filmes como esse. E se você quebrar seus preconceitos estúpidos e levar pra casa um filme como "A vida dos outros" e fazer o esforço de se dedicar a ele e fazer um favor pra si mesmo assistindo às duas horas e sete minutos que se prolongam a narrativa, vai ver que seu tempo foi muito bem investido e entender de uma vez por todas, que coisas aparentemente chatas e monótonas, fazem um bem danado pra gente de vez em quando.

O filme longo e algumas vezes um tanto quanto arrastado, toca em questões cruciais da nossa sociedade como privacidade e liberdade de expressão, ou, no caso, na ausência delas devido a um governo que se acha no direito de saber tudo de todos e que acredita poder controlar a vida de uma nação inteira por meio desse terrorismo latente, com sequestros e torturas às escusas, buscas que comprovem pensamentos contra o governo e compra do silêncio e da obediência daqueles que se submetem a esse sistema comandado por pessoas que vivem com mania de conspiração internacional.

Na trama, um escritor que tem a sua conduta posta em xeque pelos membros do partido comunista, passa a ter sua vida monitorada vinte e quatro horas por dia com escutas que tentam identificar qualquer vestígio que o identifique como um membro contrário aos interesses do governo. O que acontece é que o responsável por realizar as escutas acaba se sensibilizando com o dia a dia dos eventos na casa do investigado e passa a viver uma vida que não é a dele e que só chega até ele por intermédio de diálogos, suspiros e gemidos ouvidos através dos fones no cômodo pequeno e escuro do prédio ao lado. Até que um dia ele termina por interagir de fato com essas pessoas e se torna a peça principal dos acontecimentos ocorridos dali em diante, culminando no final forte e revelador de uma época em que inclusive pensar dessa ou daquela forma era proibido, que dirá então de agir, se comportar e dar um passo além dos fios de ventrílocos que eram postos na comunidade. Uma história pesada e cheia de denúncias que ficaram presas por muito tempo no peito de milhares de pessoas que viveram naquela época, mas que só hoje conseguem expressar o desespero e o infortúnio que era viver sob vigilância constante e onipresente do governo oriental alemão.
Trailer:


Nota: 8,0

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