domingo, 16 de agosto de 2009

"Rebobine, por favor"

Michel Gondry já tinha muito crédito sobrando comigo por causa de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", mas depois que vi "Rebobine, por favor" o cara virou meu ídolo pessoal e ganhou minha admiração pra eternidade. O filme é um verdadeiro presente pra quem gosta de cinema e pra quem curte comédia de qualidade, daquelas que tem personalidade e profundidade mesmo nas piadas mais toscas e escrachadas. E eu temia muito que ele ficasse somente nesse lado superficial, até porque Jack Black está no elenco, e mesmo sendo muito bom naquilo que faz, às vezes ele perde a mão quando resolve exagerar nas expressões e ultrapassa o limite do cômico pra despencar com os dois pés juntos e firmes no campo do ridículo. Mas o caso é que não, nesse ele pisou no freio, manerou na atuação e acertou em cheio no papel do cara do ferro velho magnetizado acidentalmente e de pouco juízo. Ponto, de novo, pra Gondry.

A história passeia o tempo todo em filmes que fizeram sucesso nos últimos anos e em décadas passadas, e por isso aconselho que você veja pelo menos alguns deles (como "Caça-fantasmas", "2001 - uma odisséia no espaço", "Rei Leão", "Rocky", "Robocop", "King Kong", "A hora do rush 2") antes de ver "Rebobine...", do contrário as piadas vão ficar totalmente sem sentido, e o que era pra provocar risos vai acabar gerando estranhenza, já que a graça mesmo está em ver a versão "suecada" deles das obras supracitadas, e se você não as viu, tudo vai ser tão cômico e desconexo quanto as esquetes sem graça dos programas de sábado à noite da vida dos brasileiros sem tevê a cabo - leia-se "A praça é nossa" e "Zorra Total".

Em resumo, a história se passa dentro de uma locadora onde só se locam fitas em VHS, e que, por obra do destino, acabam sendo todas danificadas em decorrência de um campo magnético que circula pelo local. E pra evitar o desapontamente de uma antiga cliente da loja, o funcionário da locadora e seu inconsequente amigo acabam tendo que refilmar eles mesmos o filme pedido por ela. E pra surpresa deles, o resultado repercute imensamente na região, o que os motiva a produzir mais e mais obras "suecadas" - como eles dizem - com o apoio de todo o bairro e que gera um produto final bem maior do que aquilo que eles imaginavam criar desde o início.

Esse filme poderia muito bem ser exibido nas salas de aula de cinema pra ensinar como se faz comédia com inteligência e sem se perder em bobagens que não causam nada na audiência se não pena e raiva por ter desperdiçado tanto tempo da vida com elas. Simplesmente impagáveis e inesquecíveis as cenas em que os dois personagens principais se camuflam pra fugir da polícia na cerca da companhia elétrica, ou naquela em que eles invadem a envidraçada locadora da concorrência, assim como também ver na prática a técnica que eles elaboram pra tranformar o dia em noite numa tomada do filme feito por eles em uma locação externa em plena tarde de sol. É filme pra ser visto e revisto com um sorriso na cara de orelha a orelha, que diverte mas não fere sua inteligência e sua paciência em hora nenhuma, como todo bom filme de comédia deveria ser.
Trailer:

Nota: 9,5

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